quarta-feira, 26 de junho de 2019

Rendeiras tecelãs do Piauí

Tecelãs rendeiras do Piauí:

A confecção delicada da renda é reflexo da vida tranquila na localidade, cujo nome se refere a rendeira Mariana Alexandro Viana, uma das primeiras moradoras da região no século 17. A renda de bilro é fonte de complemento orçamentário, de distração e elo entre as mulheres que marcam a história do Nordeste e o Morros da Mariana. Atualmente existem dois grupos que produzem renda na cidade, a casa das Rendeiras e a Cooperativa das Rendeiras do Delta.
A arte de trançar fios de algodão ou seda é ensinada de mãe para filha há mais de três séculos no bairro Morros da Mariana, na cidade de Ilha Grande, Litoral do Piauí. Mulheres de pescadores, donas de casa e até matriarcas da família viram na renda uma oportunidade para lucrar. Para fabricar as peças, as artesãs utilizam o bilro que é uma técnica trazida pelos portugueses na era colonial. O sucesso do artesanato ultrapassou fronteiras e atualmente é reconhecido nos principais eventos de moda do país e do exterior, além de vestir famosos como a filha da atriz Cláudia Raia e a ex-primeira dama Marisa Letícia, mulher do ex-presidente Lula.
As rendas são feitas em cima de uma almofada recheada com palha de carnaúba, onde é colocado um desenho que serve como molde para o trançado dos bilros. Para fazer o bordado, as rendeiras utilizam pedaços de madeira colados a um coco típico da região conhecido como “tucum”. Enquanto os maridos saem cedo para pescar, as artesãs se dedicam aos afazeres domésticos e ao artesanato. Com paciência e maestria, seguem fazendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua família já faziam, mas elas atualizam essa arte acrescentando os fios de seda a tradicional linha de algodão.
Em 1993 a arte do bilro ganhou força com a criação da Associação das Rendeiras do Morros da Mariana e a construção da Casa das Rendeiras que possui 120 integrantes, um local fixo para as artesãs possibilitou o trabalho em grupo e facilitou o acesso dos compradores, aumentando as vendas.


Rendas de Bilros de Vila do Conde um Património a preservar Cap I, II, III
Não é de hoje o reconhecimento da importância das nossas Rendas de Bilros. Na verdade, já a Acta da sessão da Câmara Municipal de 4 de Maio do distante ano de 1616 referia o "Mester" da Rendilheira. E hoje, quase quatro séculos passados, é um privilégio que, como Presidente da Câmara, me possa associar ao processo de Certificação das Rendas de Bilros, assim testemunhando o crescente prestígio do nosso mais representativo Artesanato.

Não quero deixar de recordar alguns dos passos dados aos longo dos séculos, reveladores da atenção e do carinho que esta arte sempre mereceu, como o apoio ao protesto de Joana Maria de Jesus, que lutou contra a Pragmática de D. João V, proibindo o uso de Rendas de Bilros, ou a marcante data histórica, registada no nosso precioso Arquivo Municipal, de 1867, ano em que as nossas Rendas estiveram presentes na Exposição Universal de Paris.

Mas é, em 1919, com a criação da Escola de Rendas, que o trabalho das nossas Rendilheiras ganha particular qualidade, especificidade e maior visibilidade. Porém, nos anos 50 e 60, com a mudança de hábitos e de estilo de vida, verificou- se um declínio desta tradição. Felizmente, a partir de 1974, graças a diversas acções desenvolvidas, nomeadamente a criação do Centro de Artesanato, bem como à notoriedade granjeada pela Feira Nacional de Artesanato, conseguiu-se uma clara inversão. Destaque-se, entretanto, a abertura do Museu das Rendas, dando um forte contributo à preservação deste saber que, agora, conquista a sua Certificação.
É uma nobre herança que queremos legar!


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